A Cuidadora que Roubou o Sorriso do Menino Milionário

Guilhermo Salinas jamais poderia imaginar que um simples exame de rotina mudaria tudo para sempre. Aos 34 anos, ele construíra um império imobiliário na Cidade do México, acumulando uma fortuna que lhe permitia viver no luxuoso bairro de Polanco, mas nenhum dinheiro no mundo poderia tê-lo preparado para as palavras que acabara de ouvir.

“Senhor Salinas, vou ser direto”, disse o doutor Mendes, ajustando os óculos enquanto observava os resultados na tela do computador. “Seu filho Diego tem leucemia linfoblástica aguda. É um tipo agressivo de câncer no sangue.” Guilhermo sentiu como se o chão desaparecesse sob seus pés.

Diego, seu único filho, com apenas 7 anos, estava sentado na cadeira ao lado, balançando as perninhas enquanto folheava uma revista de quadrinhos, alheio à gravidade do momento. “Quanto tempo temos, doutor?”, perguntou Guilhermo com a voz mais fraca do que gostaria. “Com o tratamento mais agressivo disponível, talvez alguns meses. Sem tratamento… um mês, no máximo”, respondeu o médico, baixando o tom de voz.

Guilhermo olhou para o filho, que naquele momento ergueu os olhos da revista e lhe dirigiu um daqueles sorrisos inocentes que sempre lhe derretiam o coração. Como explicar a uma criança que sua vida estava prestes a terminar antes mesmo de começar? “Pai, posso comer um sorvete depois?”, perguntou Diego, sem entender por que seu pai estava tão pálido.

“Claro, pequeno, pode comer todos os que quiser”, respondeu Guilhermo, segurando as lágrimas. Nos dias seguintes, a rotina da família mudou completamente. A esposa de Guilhermo, Helena, falecera num acidente de carro três anos antes, deixando pai e filho unidos por um laço ainda mais forte. Agora, Guilhermo se via sozinho, enfrentando a maior batalha de suas vidas.

A casa na Rua Aristóteles, uma mansão de dois andares com jardins cuidadosamente planejados, transformou-se num pequeno hospital. Enfermeiros iam e vinham. Os medicamentos se acumulavam na cozinha, e Diego, que antes corria pelos corredores brincando de super-herói, agora passava a maior parte do tempo deitado, fraco demais para suas aventuras de sempre.

Foi então que Lúcia Villar entrou em suas vidas. Aos 29 anos, ela trabalhara como enfermeira num hospital público de Xochimilco antes de aceitar o emprego como cuidadora de Diego. Diferente dos outros funcionários da casa, Lúcia tinha um dom especial com as crianças. Talvez porque ela mesma perdera um irmão mais novo para uma doença quando era adolescente.

“Boa tarde, Diego”, disse Lúcia no primeiro encontro, sentando-se na beira da cama do menino. “Me chamo Lúcia, mas pode me chamar de Lulu, se quiser. Vim para ser sua amiga.” Diego olhou para ela com curiosidade. Lúcia não usava o uniforme branco típico das enfermeiras, preferindo  roupas coloridas que traziam um pouco de alegria ao ambiente pesado da casa.

“Vai me aplicar injeções?”, perguntou Diego, desconfiado. “Não, para isso existem os médicos. Eu vim para conversar, brincar e, quem sabe? Até cozinharmos juntos. Gosta de cozinhar?”, respondeu Lúcia com um sorriso sincero. Os olhos de Diego brilharam pela primeira vez em semanas. Guilhermo, observando pela porta do quarto, sentiu algo que não experimentava desde o diagnóstico: uma centelha de esperança.

Talvez não fosse a esperança de uma cura, mas sim a de que os últimos momentos de seu filho pudessem ser um pouco mais doces. As semanas passaram e Lúcia tornou-se mais que uma cuidadora. Era a luz que Diego esperava a cada manhã. Enquanto Guilhermo tentava manter a normalidade, dividindo seu tempo entre o escritório e o hospital para as sessões de quimioterapia do filho, Lúcia criava pequenos mundos de alegria dentro daquele quarto que cheirava a desinfetante.

“Hoje vamos fazer uma viagem”, anunciou Lúcia numa manhã de outubro, quando o clima na Cidade do México começava a esfriar. Ela transformara o quarto de Diego num cenário de praia, com fotos de litorais mexicanos coladas nas paredes e até areia de verdade numa caixa no chão. “Para onde vamos, Lulu?”, perguntou Diego, com seus olhos grandes ainda brilhando apesar da palidez que o tratamento lhe trouxera.

“Para Cancún. Já foi à praia?”, respondeu ela, colocando um chapéu de palha na cabeça do menino. “Meu pai sempre diz que vamos viajar, mas está sempre ocupado demais”, disse Diego com uma voz carregada de uma tristeza que nenhuma criança de 7 anos deveria conhecer. Lúcia sentiu um nó no peito. Ela notara como Guilhermo, apesar de amar profundamente o filho, lutava para equilibrar o peso da culpa, do trabalho e da dor iminente da perda.

Naquela tarde, quando Guilhermo chegou em casa após uma reunião importante, encontrou Diego rindo pela primeira vez em semanas. O menino estava pescando peixinhos de brinquedo num balde com água, enquanto Lúcia narrava histórias de pescadores de Veracruz. “Como foi seu dia, campeão?”, perguntou Guilhermo, beijando a testa do filho.