A mansão dos Alencar amanhecia envolta por um silêncio pesado quando Dora, a nova diarista, estacou diante de um retrato antigo esquecido na estante
O rosto da mulher no quadro — elegante, de olhar calmo — fez seu sangue gelar. Ela reconhecia aquele semblante. Era dona Brígida, a matriarca dada como morta seis anos antes. A voz lhe escapou num grito que rasgou o corredor:
— Eu vi sua mãe! Ela não morreu… ela está internada no hospício Santa Luzia!
O mordomo, velho Ernesto, deixou a xícara cair e correu para avisar o patriarca. Quando a notícia chegou aos ouvidos de Renato Alencar, herdeiro do império cafeeiro, seu mundo rachou. O funeral da mãe fora rápido, fechado, organizado inteiramente por sua esposa, Helena. Ele nunca vira o corpo… “para poupá-lo”, diziam.
Helena desceu as escadas com sua compostura impecável, mas os olhos denunciaram um lampejo de medo ao ouvir o relato. Tentou abafar a história, chamando tudo de invenção. Mas a filha do casal, Lívia, de quinze anos, ouviu tudo da porta e sentiu o chão desaparecer: talvez a avó que jamais conhecera estivesse viva.
Renato convocou Dora para a biblioteca. A diarista, trêmula, contou que trabalhara na clínica por meses e vira dona Brígida diariamente, lúcida, sempre falando sobre o filho e sobre a fazenda. E mais: dizia ter sido internada contra a própria vontade. As palavras perfuraram o coração de Renato como lâminas.
Na manhã seguinte, ele partiu sozinho rumo à clínica Santa Luzia. A recepcionista estranhou o pedido de acesso, e o diretor, Dr. Álvaro, tentou barrá-lo com justificativas frias. Mas o desespero de Renato rompeu portas que há seis anos mantinham sua mãe oculta. No corredor silencioso, uma freira empurrava uma cadeira de rodas. Quando a idosa levantou o rosto, o tempo parou.
— Mãe…?
— Meu filho… eu sabia que um dia você viria.
O reencontro, doce e devastador, trouxe verdades que foram se encaixando como peças de um quebra-cabeça cruel. Brígida relatou como descobrira desvios milionários cometidos por Helena. Como ameaçara denunciar. Como, dias depois, começara a sentir tonturas, ser chamada de confusa, até despertar na clínica. Lá, suas cartas jamais chegavam ao filho. E enquanto ela respirava, era dada oficialmente como morta.
Renato voltou para casa tomado por uma revolta que o deixava quase sem ar. Encontrou a filha em prantos e Helena arrumando malas às pressas. A máscara da esposa caiu de vez quando percebeu que o marido descobrira a verdade. Tentou fugir, mas a polícia chegou na mesma hora, acionada anonimamente por alguém da casa — talvez Ernesto, talvez Dora, talvez a própria consciência de um silêncio antigo.
Dona Brígida foi recebida de volta na mansão com lágrimas, abraços e jasmins colhidos do jardim que ela plantara décadas antes. Lívia finalmente conheceu o sorriso da avó. Renato, ao lado das duas, prometeu reconstruir tudo sem sombras, sem mentiras, sem correntes.
E, naquela noite, enquanto a melodia suave de um piano ecoava pela sala, compreenderam que a verdade, por mais dolorosa, sempre encontra seu caminho de volta.
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